22 de novembro de 2024

Bolsonaristas e fanáticos evangélicos estão em campanha de exaltação ao filme Som da Liberdade, do diretor Alejandro Gómez Monteverde. Ao tratar do tráfico internacional de crianças, o filme subverte a justa luta contra a exploração infantil e se aproveita da temática sensível para tentar emplacar pensamentos fundamentalistas. As controvérsias não param por ai. A história é inspirada no caso real de Tim Ballard, um norte-americano endeusado no filme, mas acusado de abusos sexuais na vida real.

O estímulo de bolsonaristas e radicais de direita ao filme é tanto que ele lidera as bilheterias no Brasil atualmente. Muitos pastores estão, inclusive, distribuindo ingressos aos fiéis. Entre eles, relatos de que a própria família Bolsonaro estaria por trás da distribuição. Assim, multidões fanáticas invadiram shoppings de todo o país entoando cantos de louvor, caminhando pelos estabelecimentos em comportamento de horda.

Em Santa Catarina, policiais militares compareceram em massa aos cinemas. Inclusive, divulgaram vídeos convocando aqueles alinhados ideologicamente com a extrema direita e as pautas ultraconservadoras para que lotassem as salas.

Conspirações
Nos Estados Unidos, o filme despertou a atenção de uma rede de extremistas radicais de direita, que idolatra Donald Trump, conhecidos como QAnnon. A ideologia é de que existe uma conspiração global, um tipo de “nova ordem” conduzido por figuras poderosas do capitalismo, mas que eles chamam de esquerdistas. Presidentes, líderes de grandes corporações, entre outros. Então, estes radicais abraçam uma teoria de que essas pessoas conduzem um esquema global de abuso de crianças.

A criação de inimigos falsos é um modus operandi da extrema direita, basta ver a ideologia macartista nos Estados Unidos, que demonizou o comunismo como forma de fortalecer as ideologias vigentes no país durante a Guerra Fria. “Não é à toa q O Som da Liberdade é o filme de cabeceira da extrema-direita em tdo o mundo. Ele mobiliza na divulgação das teorias da conspiração q eles tanto creem. Essas teorias mentirosas são mais importantes q o próprio filme”, diz a professora universitária Lola Aronovich.

A realidade
No mês passado, um grupo de mulheres acusou Ballard de “assédio sexual, manipulação espiritual, aliciamento e má conduta”. Na obra de ficção, o norte-americano, ex-agente federal, viaja à Colômbia para desmascarar suposto esquema de abuso infantil. Já na realidade, as mulheres afirmam que “embora valorizemos nossa privacidade enquanto trabalhamos para reconstruir nossas vidas, também sentimos a responsabilidade de falar e afirmar inequivocamente que essas alegações são verdadeiras”.