O material digital produzido pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e distribuído nas escolas estaduais de São Paulo apresenta erros de conteúdo em história, biologia, matemática, física e outras matérias.
Produzido pela equipe da Secretaria de Educação (Seduc), comandada por Renato Feder, o material foi distribuído em abril a 5.300 escolas de São Paulo e abrange mais de 6.000 aulas.
Em um dos slides para alunos do 8º ano do ensino fundamental, o material afirma que a Lei Áurea, criada em 1888, foi assinada por Dom Pedro 2º. No entanto, a lei que extinguiu a escravidão no Brasil foi assinada por sua filha, a Princesa Isabel.
“Em 1888, Dom Pedro II assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. No entanto, a insatisfação popular com a monarquia continuou a crescer”, diz o texto.
Em outro conteúdo de história, dois erros factuais são encontrados no mesmo slide destinado a estudantes do 9º ano do ensino fundamental. O material digital afirma que a cidade de São Paulo tem praias e que Jânio Quadros, então presidente da República, era prefeito da capital.
Porém, em 1961, ano em que proibiu os biquinis, Jânio era presidente do Brasil e não chefe do executivo paulistano. A medida foi direcionada, portanto, a todas as praias do país e não na praia da capital paulista.
Em matemática, em material direcionado para o 6° ano do ensino fundamental, foi encontrado erro em uma conta básica de divisão. Em vez de 36 dividido por 9 ser igual a 4, o resultado apontava 6.
Em outro erro factual, alunos do ensino médio apontaram erro sobre a morte do físico Jean Foucault. No material, o slide cita uma descoberta feita pelo físico e astrônomo francês Jean Foucault em 1985, mas ele morreu em 1868.
Alunos do primeiro ano do ensino médio, receberam um slide em que a música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, um dos hinos contra a ditadura militar brasileira, aparece com uma foto e o nome de outro cantor da época, Geraldo Vandré.
Em nota, a Seduc afirma que afastou os servidores responsáveis pelos erros didáticos nos materiais produzido pela pasta, mas não informou os nomes. A pasta afirma que, por ser digital, o conteúdo é editável e foi atualizado e retificado.
“A coordenadoria pedagógica da instituição realiza revisões e aprimoramentos constantes nos recursos didáticos, mantendo-se em total harmonia com o currículo paulista”, disse em nota.
Segundo um relatório elaborado pela Rede Escola Pública e Universidade (REPU), no entanto, o material fornecido pelo governo de Tarcísio de Freitas contém problemas metodológicos, erros conceituais e fazem uma má contextualização das informações para os alunos.
A análise feita pela Repu conclui que caso o material fosse submetido ao processo de avaliação de qualidade usado pelo MEC na escolha dos livros didáticos, eles seriam reprovados. Os pesquisadores encontraram erros em todas as disciplinas e em todas as etapas de ensino.
Tarcísio e Feder recusam PNLD
No começo de agosto, a Seduc anunciou que não iria aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para os anos finais do ensino fundamental (do sexto ao nono ano) e ensino médio.
O PNLD é o programa do governo federal por meio do qual as escolas e redes de ensino podem escolher livros didáticos de literatura para uso em sala de aula. Todos os anos, a escolha costuma ocorrer em agosto, para que a entrega dos livros seja feita a tempo para o ano letivo seguinte.
Na época, a pasta justificou que a rede estadual “possui material didático próprio alinhado ao currículo do Estado e usado nas 5,3 mil escolas, mantendo a coerência pedagógica”.
“Dentro da rede a gente tinha um conjunto de livros didáticos e o que a gente está fazendo é uniformizando todos esses livros em um material digital. O que estamos buscando é uma uniformização e coerência pedagógica em todas as escolas do estado”, chegou a dizer o secretário executivo da Educação Vinicius Neiva.
No entanto, após críticas da sociedade civil e uma decisão da Justiça, no dia 16 de agosto, a Secretaria de Educação de São Paulo voltou atrás e anunciou que vai aderir ao PNLD em 2024, além do Currículo Paulista.
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Foto: Governo de São Paulo/Divulgação