Toda sexta-feira no jornal Leia Sempre Brasil a coluna Nordestinados a Ler nos brinda com personagens e histórias da cultura e da literatura. Espaço assinado pela professora e escritora Luciana Bessa.
NORDESTINADOS A LER
POR LUCIANA BESSA
Jornal Leia Sempre Brasil
Edição nº 176 – 04.08.2023
Nas ondas da Literatura
Há dois anos, O Blog Literário Nordestinados a Ler foi convidado por Francisco Nascimento para fazer um programa na Web Rádio Cafundó – https://www.radios.com.br/aovivo/radio-cafundo/179244 -, cuja programação é voltada para o fortalecimento da cultura e dos movimentos sociais, assim como para os Direitos Humanos.
Confesso que minha primeira reação foi perguntar: “Como assim?”, “Falar sobre Literatura em uma rádio?”. Esse estranhamento se deu, porque sou de uma geração que escutava rádio com uma fita cassete na mão, pronta para gravar músicas em inglês com a tradução do locutor.
Nunca escutei um programa de rádio que tivesse a literatura como foco. Mas como sou movida a desafios, já dizia Sócrates “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”, aceitei a provocação literária, afinal, o poeta gauche Carlos Drummond de Andrade ensinou-me que: “Lutar com palavras / parece sem fruto. / Não têm carne e sangue…/ Entretanto, luto”.
Nessa jornada, encontrei outras três mulheres, Shirley Pinheiro, Bruna Nergino e Letícia Isabelle que decidiram somar à minha voz, as suas. Formado o quarteto fantástico das “nordestinadas a ler”, escolhida as escritoras (es), cantoras (es) e temáticas voltadas à cultura, somamos 100 (cem) programas na Rádio Cafundó, todos os sábados, das 17:00h às 17:30h.
O que posso dizer diante dessa marca de cem programas literários? A primeira coisa a ser dita é: Gratidão ao idealizador da Rádio Cafundó, Francisco Nascimento, por acreditar no poder da Literatura, essa arte que transforma e humaniza. O que seria de nós sem as descrições de José de Alencar? Ou mesmo sem o humor seco de Machado de Assis? Sem os versos que exaltam nossa pátria de Gonçalves Dias? Ou os do poeta pernambucano Manoel Bandeira, que imortalizou Recife e o Rio Capibaribe? O que dizer das narrativas intimistas de Clarice Lispector? Sem escutar as histórias de Ruth Rocha, como cresceriam nossas crianças? Como não ter a representação do nordeste nas obras de Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins Rego? Como viver sem o mito em Grande Serão: Veredas, de Guimarães Rosa?
A segunda coisa a ser posta é: não é fácil fazer um programa de literatura semanal, ou mesmo manter um Blog literário. Vimemos em país que as livrarias fecham suas portas, como foi o caso recentemente da Livraria Cultura. Como se não bastasse, entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu ao menos 764 bibliotecas públicas, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP). Tem ainda o fato da diminuição do número de leitores (4,6% bilhões em 4 anos), segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2019), com o apogeu da internet e as redes sociais.
Diante dessas e outras pedras no caminho, termino o texto, mas continuo nessa caminhada ao lado das minhas companheiras, Shirley Pinheiro, Bruna Nergino e Letícia Isabelle, com a missão de trazer à tona a história de tantas mulheres esquecidas pela memória de alguns brasileiros. A expectativa é que a próxima geração não se esqueça desse quarteto fantástico de nordestinadas, que todos os sábados estão na Rádio Cafundó e que elegeram a literatura e a mulher-escritora como pautas de luta. Acreditamos que cada vez que lemos ou que exaltamos uma mulher, damo-nos a oportunidade de (re)contar a História.