Toda sexta-feira no jornal Leia Sempre Brasil a coluna Nordestinados a Ler nos brinda com personagens e histórias da cultura e da literatura. Espaço assinado pela professora e escritora Luciana Bessa.
NORDESTINADOS A LER
POR LUCIANA BESSA
Jornal Leia Sempre Brasil
Edição nº 167 – 02.06.2023
Semíramis: uma narrativa sobre a família Alencar
Cada escritor(a) tem uma marca que faz o leitor reconhecer sua escrita. A da escritora cearense Ana Miranda é mesclar o discurso histórico ao discurso literário.
Costumo dizer que Ana Miranda se vale da História para contar história. Tudo começou em 1989 com a obra Boca do Inferno, que lhe rendeu o prêmio Jabuti em 1990, uma narrativa ágil em que homens e mulheres se dilaceram entre o céu e o inferno, cujos protagonistas são o poeta brasileiro Gregório de Matos e o orador português Padre Antônio Vieira.
Ler Ana Miranda é conhecer, em experiências de escritores(as), o contexto histórico, político, econômico e social no qual estavam inseridos. A ganhadora do Sereia de Ouro (2009) possibilita ao leitor revisitar o passado histórico de uma personalidade literária (Gonçalves, Dias, Xica da Silva) e, assim, repensar o tempo presente.
Semíramis (2014) é um romance dedicado a uma outra cearense, Rachel de Queiroz, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (1977) e até a década de 1930, a única escritora a descrever o fenômeno da seca de forma não romântica, como fizeram seus antecessores: Antônio Sales, em Aves de Arribação (1914), é um deles.
Dividida em cinco capítulos, contada por Iriana, irmã de Semíramis, que dá título ao livro, trata-se de um romance sobre a vida do escritor José de Alencar e, claro, sua obra e sua família: “feita de fibra, destemor, obsessão pela justiça”, nas palavras da narradora.
A simbologia dos nomes próprios é outra particularidade de Ana Miranda. Se não, vejamos. Semíramis, conhecida por fontes gregas, armênicas e judaicas, significa rainha da Assíria e fundadora da “Babilônia com seus jardins suspensos”. Iriana, de origem hebraica, significa a mais ilustre, porém, dotada de solidão. Ambas, mulheres em busca de realizações pessoais em uma época, século XIX, determinada pela voz masculina.
Essas duas irmãs, órfãs de pais, moradoras da Vila do Crato, vivem com os avós. O avô era um vereador do partido liberal e herói da Revolução Pernambucana de 1817 ou Revolução dos Padres, já que foi gestada dentro do Seminário de Olinda, espaço plural onde se estudava a Bíblia e a cartilha do Iluminismo.
Eram vizinhos de Bárbara de Alencar, mãe de Martiniano José de Alencar, que virá a ser o pai do escritor José de Alencar, e de Tristão Gonçalves, idealizadores de duas Guerras: a de 1817 e a de 1824, Confederação do Equador – ambas não aceitavam os mandos e desmandos da Coroa Portuguesa.
Da proximidade com Bárbara de Alencar a vida dessas duas irmãs se entrelaçará com a do neto dela, José de Alencar, o criador de perfis femininos: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875).
Iriana em viagem com avô para o Alagadiço Novo, Fortaleza, estará presente no dia 01 de maio de 1829, no nascimento do futuro criador de Iracema (1865). Semíramis, casará com Calixto, deputado e advogado, se mudará para a Corte, Rio de Janeiro, acompanhará e compartilhará, por meio de cartas com a irmã, a vida de Alencar, através da publicação de folhetins, como “Ao correr da pena”, e de relatos sobre as peças teatrais do também dramaturgo.
Ambas serão tomadas de amor pelo escritor e romancista. O tempo passa, Iriana se casa e fica viúva no mesmo dia. Semíramis, infeliz com o fato de não se reconhecer no papel de mãe e de esposa, de não poder realizar seu sonho de ser atriz, acaba falecendo. Pela derradeira vez, Iriana encontra-se com José de Alencar, que a reconhece como irmã de Semíramis. Eis que ela descobre que toda a correspondência que trocava com a irmã, durante anos, sobre a vida e a obra do escritor não passou de “brincadeira”, “engano” descobertos no último capítulo da obra intitulado: “Três minutos de ilusão”.
Os romances de Ana Miranda são espaços onde vozes históricas e literárias se encontram por meio da intertextualidade, possibilitando se conhecer os fatos vividos e planejar os fatos vindouros.
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