22 de novembro de 2024

Por Íris Tavares – Historiadora e Escritora

A participação feminina na luta política e de emancipação no nordeste brasileiro, remonta um período da nossa história marcada por importantes insurreições. Temos como referência o protagonismo de Bárbara de Alencar (1770), na Revolução Pernambucana de 1817, que mais tarde favoreceu a Confederação do Equador (1824). Ela foi uma figura central que desempenhou papel ativo na propagação de ideias republicanas naquele período e tornou-se uma das primeiras presas política do Brasil, considerando a participação de mulheres negras e indígenas que tiveram na mira da repressão da guarda palaciana e daqueles, cujo interesse fora servir a monarquia. Bárbara foi uma mulher estrategista que logo percebeu a importância da geografia na política e na perspectiva do construto social republicano. Fixou residência no Crato e foi moradora da floresta, mas precisamente da Chapada do Araripe na região do Cariri no sul do Ceará.

São as guerras que mais contribuem para a destruição humana, em especial se apropriam dos corpos e da vida das mulheres. Foi assim na Primeira Guerra Mundial (1914), cujas vozes das mulheres ressoaram durante 63 anos depois, até a criação do Dia Internacional da Mulher (1977), pela Organização das Nações Unidas. Sem dúvida que foi a resistência e o entendimento político daquele grupo de mulheres que realizou uma manifestação em Petrogrado (atual São Petersburgo), na Rússia, onde questionaram sobre as condições de vida e reivindicaram melhoria e a igualdade de oportunidade do gênero feminino, da mesma forma exigiam a retirada do país da Primeira Guerra Mundial.

Em 1941, as mulheres enfrentaram, novamente, a II Guerra Mundial. Foram escaladas para o Batalhão da Morte da Rússia e lançaram-se à luta mais violenta. “As britânicas conduziram ambulâncias cheias de soldados gravemente feridos por zona fortemente fustigada pelos bombardeamentos. As mais jovens trabalhavam nas fábricas de munições e comprometeram-se a não voltar à vida que tinham antes sem exigir e conseguir o direito ao voto. As mulheres lutaram, trabalharam como enfermeiras, pilotaram aviões, animaram as tropas, infiltraram-se clandestinamente para informar os seus camaradas de armas sobre as movimentações da guerra e aprenderam a construir barcos e tanques”.
Suportaram todas as atrocidades cometidas na guerra, particularmente em campos de concentração, conhecidos como “campos da morte”, incêndios causados pelos bombardeamentos e pela mãe de todas as armas: a bomba nuclear.

Nesse 8 de março toda população do planeta assiste perplexa a sombra maldita da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, repetem a violência e a destruição das pessoas, do meio ambiente e da paz. Quantos são os rostos e corpos de mulheres, jovens e meninas sacrificadas em meio aos destroços? Quantas de nós mulheres, verdadeiramente, somos felizes? Mesmo sendo 51% da população do planeta, somos também o maior percentual nos índices que apresentam grave vulnerabilidade social. No Brasil, além do feminicídio e a violência de gênero, as mulheres são vítimas de massacre e genocídio, a exemplo da situação dos povos originários que vivem na maior terra indígena do Brasil. São cerca de 28 mil Yanomami, vítimas do abando e mercê da desnutrição que atinge mais de 50% das crianças, e há um alto número de casos de malária, relacionados à expansão do garimpo. Muitos óbitos de mulheres e mães Yanomami.

É fundamental que as nossas vozes se tornem o coro da resistência, e os nossos corpos possam ser o escudo em defesa da vida de nós mulheres. Não aceitamos essa guerra declarada contra nós. Lutamos por políticas públicas de valorização das mulheres, de acesso aos direitos básicos, de acesso a renda, de educação e a garantia de vida digna. Basta de violência!