Mais uma vez as escolas de samba de São Paulo apresentam enredos com críticas sociais relevantes. Uma das agremiações que trazem temas das comunidades é a Camisa Verde e Branco. A escola está no grupo de Acesso I, que desfila neste domingo (19). O mote alviverde neste ano será “Invisíveis. Até quando a pobreza irá sustentar a riqueza de homens que assolam o país?” No mesmo dia, Vai Vai, X-9 Paulistana, Nenê de Vila Matilde e Pérola Negra completam a festividade.
Neste Carnaval, na avenida do Sambódromo do Anhembi, estão símbolos da luta em defesa dos mais vulneráveis. Entre eles, destaque para o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo. O pároco há anos dedica a vida para ajudar os mais vulneráveis, enfrentando, por muitas vezes, o Estado, a polícia e os mais poderosos. Além do padre, marcam presença uma comitiva do maior movimento social do continente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Também estaria a viúva do educador Paulo Freire, Nita Freire.
“Para o MST que é um movimento de luta camponesa, poder estar nessa grande festa da cultura brasileira, é muito especial. Poder fazer parte deste enredo, que traz as lutas sociais, que traz a luta por moradia, a luta por educação, a luta por dignidade. Também trazendo o trabalho magnifico do padre Júlio Lancelotti, trazendo a luta pela terra e pela reforma agrária é extremamente importante”, comenta Ana Chã, do Coletivo Nacional de Cultura do MST.
Camisa Verde e Branco e visibilidade
A Camisa Verde e Branco homenageia outros nomes que lutaram para humanizar o tratamento dos mais vulneráveis. Entre eles, Zilda Arns, Lélia Gonzales, Marielle Franco, Paulo Freire, Darcy Bibeiro e Dom Paulo Evaristo Arns. “Para nossa sorte tivemos brasileiros com o poder e a sensibilidade de enxergar os invisíveis e garantir os direitos básicos do cidadão. Brasileiros que fizeram de suas vidas a dura missão de proteger a vida e os direitos de outros filhos desse chão”, afirma a direção da agremiação.
“Em 2023 a Mocidade Camisa Verde e Branco ergue sua voz e cerra seu punho num grito pelos desvalidos e ignorados do sistema, e honrosamente exalta o olhar daqueles que tiveram a grandeza de enxergar os invisíveis. Um projeto ainda em aberto, que será construído com a voz de seu povo, com debates e conversas durante o processo de construção do carnaval, que para além de um desfile, será um manifesto em prol da escuta de suas vivências e conflitos”, completa.
De acordo com o enredo proposto, a presença do MST era inevitável. Ana lembra que a participação do movimento social no Carnaval não vem de hoje. Ele já participou no final dos anos 90, pela Império Serrano, no Rio de Janeiro; em 2002 pela Neném da Vila Matilde, em São Paulo; e em 2007, pela Gaviões da Fiel, também na capital paulista. “A ideia é trazer para o coração da cidade, a bandeira da reforma agrária, da produção de alimentos saudáveis, da agroecologia, da justiça social e da luta por um mundo melhor, onde não tenhamos uma grande parte da população invisível. Pelo contrário, participativa, atuante e celebrativa.”
Enredos engajados
O Carnaval começou, oficialmente, na sexta-feira (17). Além dos bloquinhos e blocões de rua, os tamborins no Sambódromo do Anhembi deram a largada no mesmo dia. Na sexta e no sábado, desfilaram as 14 escolas do grupo Especial. Entre elas, agremiações que também trazem reflexões importantes. É o caso da Barroca Zona Sul, com o tema “Guaicurus”, que aborda a questão indígena. Já a Rosas de Ouro apresenta o enredo “Kindala. Que o Amanhã não Seja só um Ontem com Novo Nome”. Trata-se de uma ode à diversidade, respeito e igualdade racial. Também com temática afro, a Tom Maior homenageia as mães pretas, bem como orixás e a ancestralidade. A Império de Casa Verde segue pelo caminho da ancestralidade africana com o enredo “Império dos Tambores: Um Brasil Afromusical”.
Publicado no site Rede Brasil Atual