22 de novembro de 2024

As investigações sobre a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes deve tomar um novo rumo, já que a participação dos generais mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será averiguada. Entre eles, o general Augusto Heleno, que era responsável por órgãos que deveriam ter se antecipado ao episódio e agido diante dos riscos de ataque.

O ex-ministro é visto como um dos principais articuladores de uma tentativa de golpe de Estado e foi tema da reportagem de capa da revista IstoÉ desta semana.

O general deve ser investigado por seu papel como um dos mentores intelectuais dos atos terroristas de 8 de janeiro. “Heleno foi de uma conivência abissal”, disse um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Augusto Heleno havia deixado, no final de dezembro, a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que controlava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). No entanto, antes de deixar o posto, desmontou o GSI para que o órgão ficasse inerte durante os atos antidemocráticos em Brasília. Nos principais postos só ficaram pessoas de confiança do militar.

Segundo fontes ligadas à Segurança Pública, ouvidas pela Revista ISTOÉ, Heleno teria usado o aparato técnico do órgão que comandava e a influência nas Forças Armadas para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As articulações que aconteciam nos bastidores eram retratadas a apoiadores com veemência após a vitória do petista nas eleições presidenciais.

No dia dos ataques isso teria se refletido, entre outras ações, na facilitação do acesso dos golpistas ao Palácio do Planalto. “Você acha que alguém entra assim do jeito que entrou?”, questionou uma das fontes. Um almirante influente no governo Bolsonaro e próximo do general teria enfatizado várias vezes a seus subordinados e em reuniões de segurança que o novo presidente não governaria. “Foi uma tentativa de golpe. Ele não se consumou porque não conseguiram consolidar a maioria no Exército”, disse outra pessoa.

Ainda de acordo com essas fontes, várias reuniões teriam ocorrido com a intermediação de Heleno. Ao menos três fontes diferentes citam uma ocasião específica – após o segundo turno das eleições de 2022 – em que estavam presentes Heleno, o general Walter Braga Netto e representantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica. A pauta em questão seria como articular um possível golpe de Estado.

Dentre os participantes do encontro, somente o membro da Aeronáutica teria sido contra o plano e se revoltado com a ideia proposta. Mas a revolta foi ignorada pelos demais, e um dos resultados dessa reunião, ainda segundo as fontes ouvidas, foi a minuta golpista encontrada pela Polícia Federal (PF) na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. “Não foi uma brincadeira, estivemos a um passo do golpe”, frisou um dos informantes.

Publicado no site DCM