Na minha adolescência, gostava muito de escrever no meu diário. Além de ser um momento de reflexão comigo mesma, foi o modo que encontrei para passar o tempo ocioso de que dispunha. E também desejava, no futuro, olhar para o passado e dizer: valeu a pena!
Cresci (em idade e não em tamanho) e continuo tentando me descobrir por meio da escrita. Assim como eu, outras mulheres já haviam tido essa ideia. Além de escrever, passei a ler diários. Primeiro foi o de Anne Frank, depois vieram os de Virgínia Woolf, os de Anais Nin, os de Lord Byron e, por último, Maria Carolina de Jesus, mulher negra, pobre, favelada e mãe solteira – “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
Nas páginas de seu diário, Carolina mais do que relatar suas dores, denuncia a violência, a fome e a miséria de outras pessoas que, como ela, viveram e ainda vivem em situação de vulnerabilidade social. Seu texto traz uma linguagem simples e enxuta caraterizada pela oralidade; além de discutir uma temática tão presente no século XXI – a miséria humana.
Por que ler Carolina de Jesus? Para deixar de lado alguns livros canônicos; para oportunizar a si próprio com uma leitura fluida e instigante; para escutar a uma voz forte, potente, sensível e lúcida; para se questionar por que as mazelas do passado permanecem no presente e tendem, infelizmente, a continuarem no futuro; para conhecer a trajetória de uma mulher aguerrida, moradora de uma favela, que catou lixo e passou fome, mas, que por meio da leitura e da escrita imaginou uma outra vida para si.
Carolina acreditava que “quem escreve gosta de coisas bonitas” e por meio da leitura e da escrita ela as vivenciou.
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Luciana Bessa
Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a ler
e Coordenadora da Roda de Poesia no Gesso do Coletivo Camaradas